Carro autônomo freia para balões em teste no mundo real
Mesmo após
meses transitando pelo mesmo trajeto urbano, o carro equipado com uma
série de radares e sensores se assusta com frequência
Por
Elisabeth Behrmann, da Bloomberg
31 ago 2017, 17h24
Balão: “O carro é como um motorista iniciante” (Icealien//Thinkstock)
Munique – Em um trajeto de teste no trânsito de Berlim, um Jeep Grand
Cherokee experimental aciona os freios a cada poucas centenas de
metros, como um adolescente nervoso que ainda está aprendendo a dirigir.
Em certo sentido, o carro-robô está exatamente na mesma situação.
Mesmo após meses transitando pelo mesmo trajeto urbano de 11
quilômetros, esse SUV equipado com uma série de radares e sensores se
assusta com frequência. Entre grama, detritos de rua e um outdoor
político, são inúmeras as surpresas que confundem o automóvel, o que
mostra a complexidade da direção autônoma na vida real.
“O carro é como um motorista iniciante”, disse Joern Ihlenburg,
gerente da unidade de pesquisa e desenvolvimento da fabricante de
autopeças Magna International. “Ele não tem nenhuma experiência. Na
semana passada um balão azul passou pelo carro, que não entendeu o que
era e freou.”
O trajeto do Jeep não se limita apenas a acelerar e parar. O veículo
se move de forma constante em torno de uma rotatória com um caminhão
conduzido impacientemente logo atrás, o que seria inquietante para
muitos motoristas humanos.
No entanto, o desempenho geral mostra como será difícil para os
veículos autônomos dominar uma cidade em constante mudança, mesmo em um
cenário em que o recurso de mãos livres já está começando a ser usado em
rodovias.
A indústria automotiva desenvolveu um ranking para a automação dos
veículos e os futuros modelos capazes de realizar viagens totalmente sem
motorista lideram a lista com o nível 5.
As fabricantes de veículos de luxo BMW e Mercedes-Benz, uma marca da
Daimler, atualmente competem com recursos de nível 2, enquanto a Audi,
da Volkswagen, oferece um carro com autonomia próxima do nível 3.
Fornecedoras como Magna, Continental e Delphi Automotive estão em uma
disputa igualmente acirrada para fornecer os componentes — câmeras,
sensores, radar — e o software para integrá-los e avançar com a
tecnologia.
A Magna, que tem sede em Aurora, Ontário, no Canadá, e é a terceira
maior fabricante de componentes automotivos do mundo, estima que a
receita de sua unidade de direção autônoma dobrará para cerca de US$ 1
bilhão até 2020, segundo o diretor de tecnologia Swamy Kotagiri.
Mas apesar de a ideia digna de ficção científica de permitir que as
pessoas viajem em veículos totalmente autônomos dominarem as manchetes,
ele acredita que poucos clientes adotarão a tecnologia de ponta em um
futuro próximo.
“Estou confiante” de que haverá carros altamente ou totalmente
automatizados operando em “áreas geolimitadas muito em breve”, disse
Kotagiri a jornalistas, em Berlim. Mas e quanto a áreas com muitas
pessoas ou veículos movendo-se em diferentes velocidades e direções?
“Não.”
O Jeep carrega a unidade de direção autônoma MAX4 da Magna sob o
porta-malas traseiro e suas viagens são programadas por meio do sistema
de navegação do painel de controle.
As dificuldades do carro para coexistir com outros usuários nas ruas
ficam claras quando um caminhão que está a uma distância confortável à
frente entra lentamente na pista do SUV e os passageiros são sacudidos
por outra freada.
Além disso, o Jeep é o veículo mais lento do trânsito já que o
computador precisa respeitar o limite de velocidade urbano, de 50
quilômetros por hora.
A Magna estima que até 2025 apenas 4 por cento dos carros serão
equipados com tecnologia nível 4 como a MAX4. Esse sistema estará pronto
para o teste de integração em carros em linhas de produção comuns a
partir do fim de 2018 e serão necessários mais dois a três anos para que
seja disponibilizado comercialmente, disse Kotagiri.
O desenvolvimento da tecnologia ajudará a Magna a ajustar outros
produtos que estão mais próximos de chegar ao mercado em breve, disse
ele.
“Nós acreditamos firmemente que, se não forem feitos os níveis 4 e 5,
não será possível tornar os níveis 2 e 3 efetivos”, disse ele. “Sem
entender o todo não se pode fazer as peças adequadamente.”
(Gráfico/Bloomberg)