quarta-feira, 30 de outubro de 2019

O incrível lago artificial para surfistas que pode produzir até mil ondas por hora

O incrível lago artificial para surfistas que pode produzir até mil ondas por hora





29 outubro 2019


Direito de imagem Global Shots
The Wave 
Parque The Wave custou 26 milhões de libras
Dez anos depois de ser idealizado, um gigantesco lago artificial capaz de produzir ondas iguais às do mar foi inaugurado nesta semana em Bristol, no Reino Unido.
O complexo, chamado The Wave (A Onda), custou 26 milhões de libras e pode gerar até mil ondas por hora.
Ele cria desde pequenas ondas, para quem está aprendendo a surfar, até rápidas e grandes ondas que formam tubos, para surfistas experientes.
Os donos dizem que o complexo funciona com energia 100% renovável e afirmam que ele é uma "sala de aula perfeita" para ampliar a conscientização de questões ambientais como poluição por plástico e emissões de carbono.
Direito de imagem Global Shots /Divulgação
Lago do surfe 
O complexo ocupa uma área de mais de 300 mil metros quadrados
O complexo ocupa uma área de 300 mil metros quadrados. Só o lago tem 180 metros de comprimento e 200 de largura.

Estreia radical
As primeiras pessoas a surfar nas ondas do lago foram selecionadas entre centenas de candidatos.
O complexo também foi planejado para tornar as ondas acessíveis até para pessoas com deficiências severas.
Entre os surfistas que inauguraram o complexo estavam Marshall Janson, um jovem que perdeu as mãos e pernas quando teve meningite, Claire Moodie, que criou uma ONG para combater a poluição por plástico, e um grupo de crianças.
Direito de imagem Global Shots
Wavegarden 
As ondas do complexo imitam ondas que quebram sobre recifes de corais
O parque foi idealizado pelo empresário Nick Hounsfield.
"Temos um grande oportunidade de tirar as pessoas, especialmente as crianças, da frente do computador, levá-las ao ar livre, fazê-las interagir com a natureza, e melhorar a saúde e o bem estar físico e mental das pessoas", diz ele.

Preservação e energia renovável
Hounsfield diz que no começo se preocupava com a possibilidade de receber críticas negativas de ambientalistas.
"Tenho amigos que são experientes militantes pelo meio ambiente, e eu me preocupava que construir algo tão artificial assim, como se isso de alguma forma desvalorizasse [o projeto]", diz ele.
"Mas eles se mostraram entusiasmadas com o The Wave, porque será a maneira perfeita de levar a mensagem [sobre a importância da preservação ambiental] de uma forma que atraia as pessoas."
Direito de imagem Javi Munoz/Divulgação
Nick Hounsfield 
Nick Hounsfield afirma que o esporte tem um poder de renovar a vida das pessoas
"Existe uma grande falta de conexão entre as pessoas que moram em cidades e muitas vezes não entendem o impacto das escolhas que fazem no dia a dia no ambiente costeiro", diz Hounsfield. "Tudo afeta, desde a forma como lidamos com esgoto às nossas escolhas de produtos descartáveis."
As construções do complexo são feitas de madeira renovável e protegidas do frio com uma fibra de madeira sustentável. Todos têm painéis solares.
O presidente do parque aquático, Craig Stoddart, diz que a empresa gasta 100 mil libras a mais por ano para usar energia renovável.
Direito de imagem Image Cabin
Jayce Robinson 
O campeão de surfe Jayce Roberts foi o primeiro surfista profissional a testar as ondas
Cerca de 16 mil árvores estão sendo plantadas no local, campos de flores e áreas alagadas também estão sendo criados — a ideia é ter um espaço para aprendizado ao ar livre.
"Minha missão era tirar crianças da cidade e levá-las para brincar na natureza", diz o paisagista Ian Richardson. "E também para os mais velhos, dar a eles espaço para estarem em um ambiente natural."
Direito de imagem Global Shots/Divulgação
Wavegarden 
O objetivo dos criadores é o local ser totalmente autônomo em energia elétrica e poder se desligado da rede elétrica em seis anos
O The Wave foi construído em uma antiga área agrícola, de acordo com Richardson, que tinha "pouca diversidade e ecologia".
"Tivemos de prestar atenção a onde o lago estava e como ele se relacionaria com o paisagem. Por exemplo, o que poderíamos fazer com todo o solo que tiramos [do local], como poderíamos usá-lo para melhorar a biodiversidade e o ambiente", diz ele.
Direito de imagem Image Cabin/Divulgação
Jayce Robinson  
O plano é que o time do Reino Unido treine no local para a Olimpíada de Toquio — quando o surfe será um esporte olímpico
O parque The Wave está dentro de uma área de conservação da floresta de Avon. "Em vez de criar um uma 'ilha' de natureza, eu queria conectá-la com o ambiente, para permitir que a flora e a fauna se espalhem", diz Richardson.
As aulas para iniciantes custam cerca de 55 libras (R$ 284).

Como uma onda no mar
No oceano, as ondas podem se formar a milhares de quilômetros do local onde elas quebram, já mais próximo à praia. Elas surgem quando o vento passa pela superfície da água, criando ondulações que vão crescendo ao se afastar do ponto de surgimento.
A onda estão muda de forma, atinge um pico e quebra ao chegar em águas mais rasas.
O tipo de onda depende do tipo de solo marítimo, e o fundo do lago do The Wave foi projetado para criar ondas que imitam as que quebram sobre recifes de corais.
Isso significa que é a onda mais próxima de uma onda natural do oceano quanto a física permite.
Direito de imagem Global Shots
The Wave 
Projeto também inclui aulas para iniciantes no surfe
Hounsfield começou o projeto com muito pouco dinheiro. "Foram dois anos e meio de reuniões difíceis para conseguir encontrar o local, conseguir permissão para construir e conseguir o financiamento", diz.
Críticos do projeto dizem que ondas regulares, idênticas às naturais, mas produzidas em lagos para surfistas, dão às pessoas uma falsa sensação de segurança no oceano. Alguns surfistas também dizem que isso vai levar à superlotação de praias de surfe.
Hounsfield diz que é possível que haja mais surfistas, mas que eles vão entender o esporte melhor e ser mais conscientes ecologicamente — e mais preocupados com segurança na água. Por exemplo, eles vão ensinar as pessoas a como sair das perigosas correntes de retorno.
E lagos de surfe são um tendência no país — os criadores assinaram um acordo para criar um novo parque da marca em Londres.

Fonte: BBC

Como a invenção do laser gerou um conflito que durou 30 anos

Como a invenção do laser gerou um conflito que durou 30 anos


BBC
27 outubro 2019




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Raios laser  
O laser é uma das invenções mais revolucionárias do século 20

Quem é o inventor de algo: o autor da ideia inicial, quem recebe a patente ou quem acaba transformando essa ideia em realidade?
No caso da invenção dos raios laser, até hoje, não há uma resposta clara a esse respeito: se você pesquisar, encontrará várias pessoas descritas como 'inventoras do laser'.
Tudo começou com uma sugestão feita por Albert Einstein em uma pesquisa intitulada "Sobre a teoria quântica da radiação", em 1917, quando ele deu as bases para produzir o raio de luz que usamos hoje – seja em delicadas cirurgias, ou para medir a distância entre a Terra e a Lua.
A partir de então, vários cientistas de diferentes partes do mundo começaram a explorar o que Einstein havia antecipado.
Mas foi somente nas décadas de 1940 e 1950 que os físicos encontraram uma maneira de colocar o conceito em prática.

Um dia em 1957
Na noite de 13 de novembro de 1957, um cientista chamado Gordon Gould não conseguia dormir em sua cama em Nova York.

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Gordon Gould 
Gordon Gould foi o responsável por cunhar a palavra 'laser'
De repente, uma ideia lhe veio à cabeça. Ele pegou um caderno e começou a preenchê-lo com esboços, equações e cálculos.
Depois de uma semana de intenso trabalho, com seu caderno em mãos, ele foi a uma loja de doces, na qual pediu ao proprietário – que também era notário público – para selar cada uma das 9 páginas nas quais estava registrado o produto de seu trabalho.
O título que ele escolheu foi "Alguns cálculos aproximados sobre a viabilidade de um LASER: amplificação de luz por emissão estimulada de radiação".
Ele cunhou a palavra, que era um acrônimo de "Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation".


Um outro dia em 1957
Simultaneamente, também em Nova York, um físico de 34 anos chamado Charles Townes pensava intensamente sobre o mesmo assunto.

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Charles Townes 
Charles Townes, em 1964, recebendo o Prêmio Nobel de Física
Em outro dia em 1957, ele discutiu suas ideias com um colega, amigo e cunhado Arthur Schawlow, que encontrou a chave para fazer um laser: colocar os átomos que ele queria estimular em uma cavidade longa e estreita com espelhos refletivos para fortalecer o processo de emissão de fótons (partículas de luz), produzindo uma reação em cadeia.
Mas acontece que essa ideia foi a mesma que Gordon Gould teve.
Só que, diferentemente de Gould, Townes e Schawlow sabiam que, para patentear algo nos Estados Unidos, você não precisava efetivamente fabricar sua invenção: bastava provar que era possível fabricá-la.
Então foram eles que a patentearam.

Três décadas de disputas
Nas décadas seguintes, indústrias inteiras foram construídas em torno do laser.
Em 1964, Townes dividiu o Prêmio Nobel de Física com os russos Aleksandr M. Prokhorov e Nicolai G. Basov pelo desenvolvimento dessa invenção.

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Arthur Schawlow posando com laser em um laboratório em Stanford, Estados Unidos 
Arthur Schawlow posando com laser em um laboratório em Stanford, Estados Unidos
Schawlow ganhou o mesmo prêmio em 1981 por seus avanços no uso de lasers.
Enquanto isso, embora Gould tivesse sido o primeiro a descobrir como fazer um laser e cunhar o termo, ninguém acreditava nele.
Foram necessários 30 anos, muitas batalhas judiciais, milhões de dólares e uma luta épica com o governo dos Estado Unidos e a indústria do laser antes de alcançar o reconhecimento de uma das invenções mais revolucionárias do século 20.


Uma dívida enorme
O problema era que, se o que Gould alegava fosse declarado válido, todos os que haviam fabricado ou usado um laser anteriormente lhe seriam devedores. E quanto mais tempo levasse para o caso ser decidido, maior seria a dívida.

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Gordon Gould 
Gould depois de vencer sua longa batalha judicial pelos direitos sobre o laser
Em 1977, 20 anos após o caderno de Gould ser registrado, o Escritório de Patentes dos EUA declarou que ele primeiro teve a primeira ideia de um tipo de laser, o que lhe dava o direito de cobrar royalties de todas as empresas que o fabricavam.
Em 1979, ele venceu outra batalha, e a decisão final veio em 1985, quando a Justiça negou provimento aos casos de reexame da patente de Gould.
Ele tinha vencido. E, embora tivesse apenas 20% dos direitos sobre suas patentes, ele se aposentou com US$ 46 milhões.


O primeiro
Desta forma terminou uma das maiores guerras de patentes da história.

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Theodore Maiman 
Theodore Maiman ao lado da máquina que construiu
Em 2013, os Estados Unidos mudaram seu sistema de conceder a patente ao primeiro a inventar para entregá-la ao primeiro a arquivar a ideia, em parte para evitar casos retroativos de décadas, como o de Gould.
Foi a última nação industrializada a mudar para esse sistema.
E deve-se notar que nem Gould, nem Townes, nem Schawlow foram os primeiros a fabricar a máquina a laser: quem conseguiu torná-la realidade foi outro físico chamado Theodore Maiman, em 1960.
Então, ele deveria levar o título de inventor do laser?

Um processo, não um ato
"Uma opinião comum entre os historiadores de ciência e tecnologia é que geralmente é um erro tentar vincular uma invenção ou uma descoberta científica a um único indivíduo ou instante no tempo", escreveu a historiadora Joan Lisa Bromberg, autora de "O Laser nos Estados Unidos, 1950-1970 ".

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Imagens do filme 007 contra Goldfinger 
O laser foi e continua sendo uma parte importante da ficção. Em uma famosa cena de "007 contra Goldfinger", o bandido o usa para ameaçar James Bond, como mostra imagem à esquerda
Ela citou Hugh GJ Aitken, professor da Universidade Americana de Amherst, em Massachusetts, que escreveu: "Nós tendemos a pensar na invenção como um ato, ao invés de um processo devido ao viés incorporado às nossas leis de patentes".
"Para garantir os direitos de propriedade de uma nova descoberta, é importante poder estabelecer prioridades ao longo do tempo... No entanto, esse viés não deve corromper nossas interpretações históricas... a invenção (é) um processo com uma duração considerável no tempo, em que muitos indivíduos contribuem de maneira substancial."
O caso da invenção do laser é um bom exemplo disso.
Para Bromberg, nem Gould, nem Townes, nem Schawlow, nem Theodore Maiman fabricaram um laser por conta própria. O laser foi criado devido a todas as suas contribuições – e também às de outros cientistas.

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Ilustração de raio laser 
'Finalmente, deve-se enfatizar que o uso de um raio laser para fins destrutivos a longas distâncias é totalmente irrealista. O 'raio da morte' é e continua sendo um mito', disse o professor B. Edlen, do comitê do Nobel, ao entregar o prêmio de Física em 1964
Apesar da longa disputa, o laser rapidamente capturou a imaginação do público, talvez por causa de sua semelhança com os "raios de calor" da ficção científica. Mas as aplicações práticas levaram anos para serem desenvolvidas.
Uma jovem física chamada Irnee D'Haenens, enquanto trabalhava com Maiman no laser, brincou que o dispositivo era "uma solução em busca de um problema"... e que finalmente encontrou vários.
Mas a verdade é que hoje vivemos em um mundo em que o laser é tão onipresente que é difícil imaginá-lo sem ele.

Fonte: BBC

Por que o Homem Vitruviano de Leonardo Da Vinci é tão icônico?

Por que o Homem Vitruviano de Leonardo Da Vinci é tão icônico?






29 outubro 2019


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Homem vitruviano de Da Vinci 
O desenho interpreta as teorias da proporção de corpo do arquiteto Vitrúvio
O famoso Homem Vitruviano, de Leonardo da Vinci, finalmente viajou a Paris, apesar das tentativas de impedir que o desenho saísse da Itália.
Uma corte italiana determinou que a obra — tem que cerca de 530 anos de idade — podia ser transportada ao Museu do Louvre em Paris, onde agora faz parte de uma mostra que comemora os 500 anos da morte do grande renascentista.
A organização sem fins lucrativos Italia Nostra se opunha a seu traslado, por considerar que o desenho, que normalmente se encontra em uma sala de temperatura controlada na Galeria da Academia de Veneza, era muito frágil para sair dali.
O Homem Vitruviano é uma das obras mais famosas de Da Vinci, e muitos temiam que sofresse algum tipo de dano durante a viagem ou durante a exposição na capital francesa. A obra é um desenho de tinta sobre papel.
Mas por que esse desenho é considerado uma obra icônica do pintor, anatomista, arquiteto, cientista, inventor e filósofo florentino?

Ideia no papel
Na opinião de Joanne Allen, professora do Departamento de Arte da Universidade Americana em Washington, esse é um "desenho muito incomum para Leonardo".
"É um desenho com tinta muito bem acabado, feito para expressar uma ideia intelectual concisa, não um esboço de uma observação científica ou um desenho preparatório para uma pintura", explica Allen à BBC.
Essa ideia expressa por Da Vinci está baseada em um dos textos do antigo arquiteto romano Vitrúvio (80-70 a. C.-15 a. C), que relacionou as medidas e o desenho do corpo humano com a arquitetura.
Em seu tratado de arquitetura, Vitrúvio expôs suas teorias sobre as proporções humanas, que afirma que a proporção ideal de uma figura humana deve entrar em um círculo e em um quadrado.
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Desenho de Leonardo Da Vinci 
Diferentemente de outros desenhos de Da Vinci, o Homem Vitruviano expressa uma ideia concisa, segundo Allen
"Se um homem fica de costas, com as mãos e pés estendidos e um par de compassos centrados em seu umbigo, os dedos de seus dois pés e das mãos tocarão a circunferência do círculo desenhado", disse Vitrúvio.
"E assim como o corpo humano produz um contorno circular, também será possível encontrar uma figura quadrada a partir dele."
Da Vinci, no entanto, acomodou cientificamente o ponto central do círculo fora do umbigo para assegurar que a teoria funcionasse.
Isso, diz Allen, "não havia sido feito antes de uma maneira tão convincente".
"Leonardo utilizou duas formas perfeitas — o quadrado e o círculo — que historicamente simbolizavam a Terra e o Paraíso, respectivamente, e colocou o homem no centro."
Para Allen, os temas da perfeição e da unidade fazem que esse desenho seja um dos trabalhos mais importantes do Renascimento italiano.

Fonte: BBC

Por que sacolas de papel ou algodão podem ser tão ruins para o ambiente quanto as de plástico

Por que sacolas de papel ou algodão podem ser tão ruins para o ambiente quanto as de plástico






BBC
30/10/2019


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Sacolas de papel e algodão 
Sacolas de papel e algodão são menos sustentáveis do que pensamos?
Pense na última vez que você recebeu uma sacola com suas compras — era de plástico, papel ou algodão?
Não importa.
Todas são ruins para o meio ambiente, e especialistas dizem que, para começo de conversa, você não deve nem comprar uma sacola nova (mais sobre isso adiante).
É isso mesmo — até sacolas de papel e de algodão. Na realidade, elas podem ser até pior para o meio ambiente do que sacolas de plástico que são recicladas.
O problema é que, quando pensamos sobre sacolas sustentáveis, só focamos no que vai acontecer com ela depois de sua vida útil, mas esquecemos dos custos de fabricar uma sacola, em primeiro lugar.
Para calcular o custo ambiental verdadeiro, precisamos levar em consideração:
  • Quanta energia é usada para fazer a sacola durante sua produção;
  • Quantas vezes ela pode ser reutilizada;
  • O quão fácil é reciclá-la;
  • Qual é a rapidez de sua decomposição se é jogada fora.
Quatro vezes mais energia
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Uma sacola de plástico flutuando perto da fronteira da Turquia com a Síria 
Uma quantidade considerável de plástico foi encontrada no oceano nas décadas recentes
Fazer sacolas de papel e algodão tem um custo ambiental.
De acordo com um estudo de 2011 pela Assembleia da Irlanda do Norte, gasta-se "quatro vezes mais energia para manufaturar uma sacola de papel em relação do que se gasta na fabricação de uma sacola de plástico".
Diferentemente de sacolas de plástico (que são produzidas por produtos restantes de refinamento de óleo, de acordo com o estudo), sacolas de papel requerem que florestas sejam desmatadas para sua produção.
O processo de manufatura, de acordo com a pesquisa, também usa muita água e produz uma alta concentração de químicos tóxicos, em comparação com o que acontece na manufatura de sacolas plásticas de uso único.


Quantas vezes você precisa reutilizar cada tipo de sacola?


 
Fonte: Agência Ambiental do Reino Unido

"Elas também são mais pesadas", diz Margaret Bates, professora de gestão sustentável de resíduos na Universidade de Northampton, no Reino Unido.
"Então, dependendo do que são feitas, têm um impacto ambiental extra em seu transporte até às lojas."
Alguns dos danos ambientais são mitigados pelas novas florestas que repõem as árvores perdidas e que ajudam a compensar o impacto nas mudanças climáticas, porque as árvores sequestram carbono da atmosfera.

Carbono na fabricação
Temos também sacolas de algodão, consideradas a pior entre as três. Elas usam mais carbono em sua fabricação e demandam muita água.
Além disso, diz Bates, "algodão tem um cultivo intenso, então temos as mesmas preocupações que temos com 'fast fashion'".
Em 2006, a Agência Ambiental do Reino Unido examinou uma gama de sacolas feitas de diferentes materiais para encontrar quantas vezes elas precisam ser reusadas para diminuir seu potencial de impacto no aquecimento global em relação a sacolas de uso único.
O estudo concluiu que sacolas de papel precisam ser reusadas ao menos três vezes, uma vez menos que as sacolas de plástico (quatro vezes).
Do outro lado do espectro, a Agência Ambiental concluiu que sacolas de algodão precisam ser reusadas mais vezes —131 vezes. Isso porque muita energia é usada para produzir e fertilizar o algodão.
Mas mesmo que sacolas de papel precisem de menos reusos, há uma consideração prática a se fazer: vai durar tempo o suficiente para sobreviver ao menos três idas ao supermercado?
Sacolas de papel não são tão duráveis como outras sacolas, tendo mais probabilidade de rasgar, especialmente se ficarem molhadas.
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Uma pessoa carrega uma sacola de plástico em Nova York no dia 15 de janeiro de 2019 
A família do homem que criou sacolas de plástico diz que elas foram feitas para ajudar o planeta
Em sua conclusão, a Agência Ambiental diz que "é improvável que a sacola de papel seja usada a quantidade de vezes que precisa por causa de sua durabilidade baixa".
Sacolas de algodão, por outro lado, são as mais duráveis e têm, portanto, uma vida útil mais longa.
Apesar de sua baixa durabilidade, uma vantagem do papel é que decompõe muito mais rápido que plástico, então tem menos proabilidade de representar um risco para a natureza.
Sacolas de plástico podem levar entre 400 a mil anos para decompor, e viraram um símbolo de problemas causados pela poluição por plástico.
Mas de acordo com a família do homem que criou o saco plástico, Sten Gustaf Thulin, seu design foi justamente para ajudar o planeta e ele ficaria chocado e triste se soubesse o que ele se tornou.
"Para o meu pai, a ideia de que as pessoas simplesmente jogariam essas sacolas fora seria bizarro", diz seu filho, Raoul Thulin.
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Sacola de linho branco com fundo de folhas de arbusto  
A resposta para tudo é reutilizar sua sacola o máximo possível, não importa o tipo que for
Sten inventou o saco plástico na Suécia em 1959. Naquela época, as pessoas estavam usando sacolas de papel e muitas árvores estavam sendo desmatadas no processo.
Então ele criou uma sacola forte que era leve e duraria por anos.
Para ele, isso significava que as pessoas usariam a sacola de novo e de novo, e menos árvores seriam desmatadas.
"O que estamos todos sendo encorajados a fazer hoje, que é levar nossa própria sacola para o mercado, ele estava fazendo nos anos 70 e 80, mas de forma natural. Por que não faríamos isso?", diz Raoul Thulin.
Mas as pessoas começaram a jogar fora até sacolas plásticas reutilizáveis depois de usá-las uma vez, e agora o mundo tem que lidar com um gigante problema de poluição de plástico.

Então, o que é melhor?
É simples.
Se você tem que substituir sua sacola com mais frequência, ela vai ter um efeito ambiental maior.
"Então a chave para reduzir o impacto de todas as sacolas — não importa do que forem feitas — é reusá-las quanto mais pudermos", diz Margaret Bates.
Muitas pessoas esquecem de levar suas sacolas plásticas reutilizáveis em seu mercado semanal, e precisam comprar mais sacolas plásticas no caixa, ela diz.
Isso tem um impacto ambiental muito maior do que fazer uma escolha entre usar apenas sacolas de papel, plástico ou algodão.

Fonte: BBC

Nova pesquisa revela 'localização exata' do aparecimento do homem moderno

Nova pesquisa revela 'localização exata' do aparecimento do homem moderno






29 outubro 2019
Direito de imagem Getty Images
Makgadikgadi, em Botsuana, na África 
A paisagem da região é muito mais árida hoje
Cientistas localizaram a "terra natal" do homem moderno em uma região ao sul do Rio Zambeze, no norte da atual Botsuana, na África.
A área é atualmente tomada por salinas, mas já abrigou um enorme lago, que pode ter sido nosso lar ancestral há 200 mil anos.
Nossos ancestrais habitaram essa região por 70 mil anos, até que o clima local mudou, sugere um estudo publicado na revista científica Nature.
Eles começaram a se deslocar por meio de "corredores verdes" de terras férteis, abrindo caminho para futuras migrações para fora da África.
"Está claro há algum tempo que os seres humanos anatomicamente modernos apareceram na África há cerca de 200 mil anos", afirmou a professora Vanessa Hayes, geneticista do Instituto Garvan de Pesquisa Médica na Austrália.
"O que se debate há muito tempo é a localização exata desse surgimento e a subsequente dispersão de nossos ancestrais mais antigos".
As conclusões da professora Hayes despertaram ceticismo, no entanto, entre outros pesquisadores da área.

Região de lagos
A área em questão está localizada ao sul da bacia do Rio Zambeze, no norte de Botsuana.
Os pesquisadores acreditam que nossos ancestrais se estabeleceram perto de um imenso sistema de lagos da África, conhecido como Lago Makgadikgadi, que hoje é uma área de vastas salinas.
"É uma área extremamente grande, teria sido muito úmida e exuberante", disse Hayes. "E isso realmente forneceria um habitat propício para os seres humanos modernos e a vida selvagem viverem".
Após viverem lá por 70 mil anos, eles começaram a migrar. Uma mudança nos regimes de chuva na região levaram a três ondas de migração há 130 mil e 110 mil anos, impulsionadas pelos "corredores verdes" de terras férteis que foram se abrindo.
Direito de imagem Chris Bennett, Evolving Picture, Sydney, Australia
Hayes aprendendo a fazer fogo com os caçadores Jul'hoansi no Deserto de Kalahari, na Namíbia  
Hayes aprendendo a fazer fogo com os caçadores Jul'hoansi no Deserto de Kalahari, na Namíbia
Os primeiros migrantes se aventuraram rumo a nordeste, seguidos por uma segunda onda de migração que se dirigiu para sudoeste — uma terceira parte da população permanece em sua terra natal até hoje.
Esse cenário é baseado no rastreamento genético da árvore genealógica humana, realizado por meio da análise de centenas de amostras de DNA mitocondrial (o fragmento de DNA passado adiante pela linhagem materna — de mãe para filho) de africanos vivos.
Combinando genética com geologia e simulações de modelos climáticos pelo computador, os pesquisadores conseguiram criar uma imagem de como poderia ser o continente africano há 200 mil anos.

Reconstruindo a história humana
O estudo foi recebido, no entanto, com cautela por um especialista, que afirma que não é possível reconstruir a história da origem humana apenas com base no DNA mitocondrial.
Outras análises geraram resultados diferentes — descobertas de fósseis sugerem que a origem remete à África Oriental.
O professor Chris Stringer, do Museu de História Natural de Londres, que não participou do estudo, afirmou que a evolução do Homo sapiens foi um processo complexo.
"Você não pode usar distribuições mitocondriais modernas isoladamente para reconstruir uma única localização para as origens humanas modernas", disse ele à BBC News.
"Acho que se está exigindo demais dos dados. Como você está olhando apenas para uma pequena parte do genoma, não é possível traçar a história completa das nossas origens".
Neste contexto, poderia ter havido vários "berços da humanidade", em vez de apenas um, que ainda não foram localizados.

Fonte: BBC

Sem apoio, pesquisa que pode resolver problema mundial das superbactérias trava no Brasil

Sem apoio, pesquisa que pode resolver problema mundial das superbactérias trava no Brasil






27 outubro 2019


Direito de imagem Mateus Cardoso/ CNPEM
Antibiótico ataca bactérias 
Modelagem mostra nanopartículas carregadas com antibiótico grudadas na superfície de bactérias
A Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o ex-presidente americano Barack Obama são algumas das figuras e entidades mais conhecidas que fizeram alertas sobre o crescimento exponencial das superbactérias e seu risco para a população.
Cientistas estimam que, caso nenhuma solução seja encontrada a tempo, em poucos anos o número de mortes causadas por bactérias ultra-resistentes ultrapasse o do câncer.
Na esteira dessa urgência global, cientistas de diversos países travam uma corrida para frear essa ameaça quase invisível. A boa notícia é que um cientista brasileiro do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), localizado em Campinas (SP), conseguiu desenvolver, a partir do uso da nanotecnologia, um remédio "teleguiado" capaz de atacar e destruir superbactérias com uma microdosagem de antibiótico.
A má notícia é que essa pesquisa — que vem ganhando relevância e já foi publicada em importantes revistas internacionais — ainda está longe de sair do papel.
Cientistas entrevistados pela BBC News Brasil dizem que isso ocorre porque os centros de pesquisa não têm os recursos e os conhecimentos técnicos da indústria para fazer os testes em grande escala e registrá-los antes de serem usados pela população. Eles explicam que no laboratório é possível desenvolver apenas o protótipo do medicamento.
Os pesquisadores do CNPEM até conseguem provar que o remédio funciona, fazem simulações em micro-órgãos artificiais, mas não têm estrutura para testar como ele reage em organismos mais complexos, como animais e humanos.
Os pesquisadores também não têm conhecimento técnico para cumprir todas as etapas e exigências para aprovação do medicamento na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Os maiores especialistas nessa área são as grandes indústrias, que têm dinheiro e estrutura necessários para um estudo desse porte. Testes como esses podem ultrapassar a cifra de R$ 4 bilhões.
Sem algo que combata de maneira eficaz as superbactérias, o que a indústria faz hoje, segundo os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, é "enxugar gelo". Isso ocorre porque, mesmo que as empresas invistam alto e passem anos desenvolvendo um novo medicamento, seus efeitos duram pouco tempo, pois as bactérias passam por mutação e criam resistência a ele.

Nanopartícula teleguiada
Uma das explicações para o fortalecimento dessas bactérias é que, muitas vezes, o paciente não as mata completamente. Por não seguir o tratamento pelo tempo recomendado, as bactérias sobrevivem e ficam imunes aos medicamentos que antes as combatiam, sofrem mutação e ficam ainda mais fortes.
Hoje, quando uma pessoa toma um antibiótico ou qualquer outra droga, ela se distribui indiscriminadamente pelo corpo. Um paciente com dor na garganta, por exemplo, toma um antibiótico para curá-la, mas os pés, orelhas e mãos também serão afetados pelo medicamento.
O cientista Mateus Borba Cardoso, do CNPEM, explica como funciona o seu estudo mais promissor: a nanopartícula teleguiada com antibiótico. Ele diz que consegue usar uma quantidade até mil vezes menor de antibiótico e direcioná-lo à bactéria para combatê-la diretamente. Hoje, o antibiótico se espalha por todo o corpo, por isso é necessária uma quantidade tão grande para tratar bactérias.
Direito de imagem Felipe Souza/ BBC News Brasil
Mateus Borba Cardoso em um dos laboratórios dos CNPEM 
Cientista brasileiro é o responsável por uma das mais promissoras pesquisas sobre superbactérias do mundo
"A gente está desenvolvendo nanopartículas direcionáveis. A partir do momento em que a gente administra o medicamento no paciente, ele tem um tropismo pela região doente, como um GPS. A grande vantagem é tomar uma quantidade mil vezes menor de antibiótico ou antitumoral e ter um efeito igual ou ainda mais acentuado que um remédio comum porque todo o fármaco vai para o lugar onde desejamos. Hoje, não existe nenhum medicamento que faz isso no mundo", afirmou o cientista.
Mas para que o antibiótico não reaja com outros organismos ao longo do caminho até a bactéria ou seja combatido por anticorpos, ele desenvolveu um disfarce para que o medicamento não seja identificado pelos mecanismos de defesa do corpo como uma ameaça.
Ele "colou" moléculas de água ao redor do remédio para que ele seja visto como algo inofensivo. Assim, as nanopartículas podem fazer seu trajeto "fantasiadas" e só liberam a carga de droga quando chegam ao destino.
"O mecanismo funciona, mas precisa ser testado em organismos vivos. A pesquisa já está madura o bastante para isso, mas todos esses testes são necessários para garantir que a droga fique estável e possa ser comercializada em larga escala, mundialmente", afirmou Cardoso à BBC News Brasil.
Três papers publicados na Nature mostram que após a segunda injeção o sistema já estava reconhecendo essa fantasia.

Corrida mundial
Mateus Cardoso conta que há outros quatro grupos científicos no mesmo caminho para tentar solucionar o problema das superbactérias. Ele diz que conhece a estratégia de cada um deles e afirmou que cada um tem uma abordagem diferente para atacar as superbactérias. Um desses grupos é americano, outro chinês e dois alemães.
O projeto brasileiro, o único que usa nanotecnologia teleguiada, ainda não recebeu nenhuma proposta de financiamento para que possa avançar nas pesquisas. Sem dinheiro, Cardoso contou que vai iniciar os testes numa escala limitada.
"Nós somos um dos poucos grupos do mundo que conseguem chegar de forma seletiva em bactérias. Isso é muito difícil pois as bactérias têm poucas possibilidade de ancoramento (ligação seletiva por meio de um sistema chave-fechadura) , pois a superfície delas é 'consideravelmente simples', quando comparadas a vírus e células", afirmou Cardoso.
A BBC News Brasil procurou as três indústrias farmacêuticas (EMS, Sanofi e Hypera Pharma) que mais lucraram no último ano para saber se elas conhecem o projeto, se costumam fazer parcerias com cientistas brasileiros, se visitam os centros acadêmicos, quantas fórmulas produziu nos últimos anos e quantas comprou do exterior. Nenhuma delas quis comentar o assunto.
O presidente-executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma), Nelson Mussolini, diz que há diversas pesquisas em andamento no Brasil, feitas principalmente a partir de parcerias entre indústrias e universidades.
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Cientistas trabalhando no CNPEM 
Presidente do sindicato que representa indústrias farmacêuticas diz que outros países têm mais tradição em 'vender' seus estudos em busca de financiamento
Ele diz que essas parcerias são confidenciais, mas revela que uma delas, feita em parceria com a USP, já recebe o seu segundo royalty (uma parte do lucro). Há ainda parcerias com Unicamp, PUC Rio Grande do Sul e outros institutos de pesquisa. Ele cita diversos fatores econômicos que dificultam o investimento em pesquisa no Brasil.
"Na melhor das hipóteses, uma pesquisa sobre medicamentos demora de 10 a 12 anos e tem um custo de até US$ 1 bilhão (R$ 4,15 bilhões) para lançá-lo. As empresas brasileiras fazem pesquisas, mas escolhem os ramos com retorno mais garantido. Em outros países, é mais fácil porque o governo também faz parceria com os pesquisadores e ainda há empresas como a Bayer, que tem um lucro que vale por toda a produção brasileira", afirmou Mussolini.
O presidente da Sindusfarma também disse que no Brasil não há uma tradição dos centros de pesquisa e universidades "venderem" seus estudos em busca de financiamento, e vice-versa. Na visão dele, pesquisadores e indústrias precisam se comunicar mais, para possibilitar mais parcerias.
"Agora que estão passando por dificuldades que os cientistas estão saindo da caixinha, buscando financiamento privado. O pesquisador precisa sair de seu casulo e dizer que está fazendo pesquisa e tem interesse em receber financiamento. Mas isso é uma chave que não muda da noite para o dia", disse.
"Por outro lado, na Europa e nos Estados Unidos você tem profissionais que ficam visitando universidades e centros de pesquisa atrás de novos medicamentos. Aqui não tem", afirmou Mussolini.
Para ele, a pesquisa sobre superbactérias desenvolvida no CNPEM tem um grande potencial para ser financiada por uma instituição privada.
"O cara desenvolveu um produto farmacêutico que combate de forma eficaz a superbactéria. Não é que vai ter uma indústria querendo investir nele, mas uma fila, nacional e internacional", afirmou o presidente do sindicato que representa as indústrias farmacêuticas.
Lucio Freitas Junior, pesquisador do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, disse que há indústrias brasileiras capazes de financiar grandes estudos, mas que historicamente não apostam em pesquisas.
"Por outro lado, o pesquisador também não está acostumado a cumprir metas e apresentar propostas. Na academia, ele quer ter dinheiro, mas não quer cobrança. Fui numa farmacêutica e propus uma tecnologia. Meus dois pós-docs foram financiados pela indústria. Dinheiro não falta, mas a cobrança, para muitos, é fatal", disse Junior.

Fuga de cérebros
Cientistas dizem que essa falta de financiamento das indústrias aliada aos recorrentes cortes de verbas de bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) causam uma fuga de cérebros do Brasil. Neste ano, professores de universidades brasileiras de prestígio já deixaram o país para trabalhar em grandes empresas, principalmente na Europa.
Os profissionais que permanecem no Brasil entendem isso como um ataque à ciência. Para eles, a atual política de cortes vai na contramão mundial, inclusive de países em desenvolvimento, como China e Índia.
Uma das poucas exceções, disseram, é a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que ainda consegue financiar a parte laboratorial dos grandes projetos, como o de Cardoso, que diz ter dinheiro de sobra para essa etapa de sua pesquisa. Para alguns dos entrevistados pela BBC News Brasil, a indústria brasileira de medicamentos não tem capacidade de se integrar com a academia.
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Pesquisadora em um dos laboratórios do CNPEM, em Campinas 
Falta de financiamento das indústrias aliada aos recorrentes cortes de verbas de bolsas causam uma fuga de cérebros do Brasil, segundo cientistas
"Eles querem ter um retorno rápido, lucro imediato. Mas também há um desconhecimento. Uma indústria da área de produtos para higiene pessoal nos procurou para um projeto, mas os cientistas nem sequer conseguiram entender o que eles queriam por causa do despreparo dos profissionais", disse Mussolini.
Os baixos salários pagos pela indústria nacional, segundo esses profissionais, na comparação com o pagamento oferecido por empresas de fora são outra razão para que pesquisadores optem por deixar o país.

Um problema social
Hoje, a produção de medicamentos não consegue acompanhar a velocidade de evolução das bactérias. O uso indiscriminado de antibióticos é um dos motivos, segundo especialistas.
"Quando um paciente toma doses pequenas por conta própria, ele não mata a bactéria. Essas que não morrem são descartadas pelo corpo na urina e fezes. Isso causa um problema social, pois essa água chega a um afluente e contamina a água e peixes. Todos ficam com bactérias mais resistentes a antibióticos", afirmou o cientista Mateus Cardoso.
O problema apontado pelos cientistas do CNPEM de os antibióticos vendidos atualmente atuarem no corpo inteiro, e não apenas de forma localizada, poderia ser resolvido por meio das nanopartículas direcionáveis. Além da vantagem de a dose ser mil vezes menor e atacar apenas as superbactérias, evita que mais antibiótico seja despejado no meio ambiente.
Uma estudante também do CNPEM, em Campinas, está usando esse mesmo sistema de "teleguiar" nanopartículas em sua tese de doutorado. Ao invés de atacar inflamações, seu estudo é baseado em destruir células com câncer.

Antibiótico personalizado
Uma nanopartícula tem um tamanho mil vezes menor que o diâmetro de um fio de cabelo. Além de carregar uma partícula tão pequena com antibiótico e ainda "fantasiá-la" de água, os cientistas estão projetando um sistema que funcione ainda melhor no futuro.
A ideia dos cientistas é criar um sistema de chave e fechadura personalizado para cada paciente. Dessa forma, um exame identificaria qual bactéria afeta o órgão e produziria um antibiótico para combatê-la da maneira mais efetiva possível.
"A intenção é que daqui a 50 anos um paciente diagnosticado com câncer ou com alguma bactéria vá a um laboratório onde seja feito um estudo para saber quais receptores há nela e quais fármacos a combate. A partir disso, será possível produzir as partículas com os fármacos e os co-receptores que vão se ligar a elas, de forma seletiva, para combatê-las", afirmou.
Esse pode ser o próximo passo para um tratamento personalizado no futuro.
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Cientistas do CNPEM fazem análise detalhada em raio-x 
Em sua tese de doutorado, uma estudante do CNPEM está usando o mesmo sistema de 'teleguiar' nanopartículas para combater células com câncer
Teoria da conspiração
O vencedor do prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em 1993, Richard J. Roberts, é uma das referências entre os que defendem a corrente de que as indústrias farmacêuticas não têm interesse em produzir remédios que curam definitivamente, com a intenção de vender cada vez mais medicamentos.
"Essa é uma das teses que não têm cabimento. Se eu tenho um produto para combater o mal de Alzheimer, por exemplo, você acha que eu não vou querer vender esse produto? Você já imaginou quanto valorizaria uma empresa na bolsa de Nova York que conseguir curar todos os tipos de câncer líquidos?", afirma Nelson Mussolini, presidente da Sindusfarma.
"Se fosse assim, a penicilina não estaria no mercado. Quantas milhares de vidas ela salvou? A indústria que fazia a penicilina foi vendida por bilhões de dólares por ter uma história de sucesso", disse.
Para a indústria farmacêutica, defende o presidente do sindicato do setor, "o ideal é que as pessoas não morressem, porque quanto mais elas vivem, mais precisam de novos produtos".
"Essa é a teoria da conspiração de que o farmacêutico quer matar a população. Nós queremos salvar vidas. As pessoas estão vivendo mais e, por causa disso, há novas doenças e a indústria precisa ganhar dinheiro para fazer novos medicamentos", afirmou.
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Cientistas em um dos laboratórios do CNPEM 
CNPEM é um dos principais centros de pesquisa do país e conta com a única fonte de luz síncrotron (gerada a partir de um acelerador de partículas) do Brasil
Procurado, o Ministério da Ciência, Saúde, Tecnologia, Inovação e Comunicações disse que o governo federal investe em diversas pesquisas, inclusive ensaios pré-clínicos — aqueles feitos antes dos medicamentos serem testados em humanos.
A pasta informou que em 2018 lançou uma chamada pública para projetos de pesquisa de novos medicamentos antibióticos no valor de R$ 1 milhão para o "Plano Nacional de Enfrentamento à Resistência Antimicrobiana".
O MCTIC afirmou ainda que "financia instituições que atuam e promovem testes pré-clínicos (de medicamentos), como no Centro de Inovação e Ensaios Pré-Clínicos CIEnP, em Santa Catarina".
O governo disse que o Marco Legal aprovado em 2016 "favorece a colaboração entre centros de pesquisa, empresas e governo para o desenvolvimento da ciência, tecnologia e inovação" no Brasil.
A pasta afirmou ainda que "considera essencial a criação e manutenção de estruturas e ferramentas que poderão proporcionar ao complexo industrial da saúde nacional a capacidade de gerar novos negócios, expandir as exportações, integrar-se à cadeia de valor e estimular novas demandas por produtos e processos inovadores, levando em consideração as prioridades do Sistema Único de Saúde".

Fonte: BBC